O ex-diretor do DLOG (Departamento de Logística) do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias negou, em fala inicial à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid no Senado, ter pedido propina ao cabo da PM mineira e vendedor autônomo da Davati Medical Supply Luiz Paulo Dominguetti Pereira.
Dominguetti afirmou à comissão em 1º de julho que o ex-diretor do Ministério da Saúde teria cobrado propina na compra das vacinas, supostamente pedindo US$ 1 por dose para fechar um contrato de compra de 400 milhões de doses do imunizante da AstraZeneca com a Davati Medical Supply.
Dias declarou que, em 25 de fevereiro, combinou de beber um chope com seu amigo José Ricardo Santana, segundo ele um ex-funcionário da Câmara de Medicamentos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Por sua versão, quando ambos já estavam no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, o coronel Marcelo Blanco chegou ao mesmo estabelecimento com um homem que se identificou como Dominguetti.
O depoente relatou que os 4 conversaram sobre amenidades, até que Blanco apontou que o cabo da PM mineira teria uma proposta comercial de vacinas para fazer ao Ministério da Saúde. Dias, então, teria respondido que a informação sobre a possibilidade de venda de 400 milhões de doses da vacina da AstraZeneca já circulava na pasta. Teria pedido, então, que Dominguetti formalizasse um pedido de agenda no DLOG e levasse documentos que comprovassem a capacidade da Davati de entregar as doses oferecidas.
“Chegando ao Ministério, o senhor Dominguetti foi atendido por mim na presença de outra servidora. Os documentos se mostraram mais do mesmo, não havia carta de representação do fabricante. Entretanto, o mesmo alegou que a receberia em instantes. Disse então que possuía outra agenda, mas que, se ele quisesse aguardar, ficasse à vontade na sala ao lado. Tempos depois, o mesmo se despediu, disse que teria que ir embora, e nunca mais tive notícias, como de diversos outros ofertantes de vacina.”
O ex-diretor do DLOG não soube explicar como Blanco, que à época já não trabalhava mais no Ministério da Saúde, e o vendedor autônomo da Davati chegaram ao restaurante exatamente quando ele tinha um compromisso pessoal com um amigo. “O coronel Blanco muito provavelmente sabia que eu estava neste restaurante, por telefone ou mensagem“, declarou.
COVAXIN
Dias também se disse injustamente acusado pelos irmãos Miranda de exercer pressão para que se desse andamento ao processo de compra da Covaxin a despeito de supostas irregularidades. Segundo ele, a mensagem enviada na noite de 20 de março deste ano ao servidor Luis Ricardo Miranda, irmão do deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), se tratava do desembaraço da importação de doses da AstraZeneca, e nada teria a ver com o processo de compra da Covaxin.
O depoente apontou que um lote da vacina da AstraZeneca chegaria no dia seguinte ao aeroporto de Guarulhos (SP), com presença do então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Na tarde de 21 de março, o general esteve, de fato, no aeroporto para receber o 1º lote de vacinas daquela farmacêutica fornecidas pelo consórcio Covax Facility, com 1.022.400 doses. Pazuello foi fotografado em frente à carga, ao lado do então ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do deputado Luis Miranda.
Questionado pelo Poder360 sobre a versão dada por Dias à CPI, Luis Miranda respondeu com uma mensagem encaminhada pelo seu irmão afirmando que a licença de importação do lote do consórcio Covax Facility havia sido “aberta” em 12 de março. “A entrega da Covax Facility estava até embarcada, então ele [Luis Ricardo Miranda] tem certeza de que não se tratava sobre ela“, disse o deputado.
A reportagem também perguntou ao congressista se, por ocasião da entrega das doses do Covax Facility, em 21 de março, ele teria conversado com Pazuello a respeito das irregularidades que havia relatado ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no dia anterior.
Ele respondeu: “Avisei ao Pazuello, dentro da aeronave, de que eu tinha feito uma denúncia grave para o presidente Bolsonaro e que era importante que ele conversasse com o presidente sobre o caso. Como o ambiente dentro da aeronave era pequeno, com várias pessoas ao redor, não entrei no tema de forma aberta. E ele volta para mim [respondendo] que ele provavelmente não estaria mais como ministro na próxima semana, que infelizmente ele também estava saindo porque não concordava com algumas coisas, ele usa a expressão de novo do ‘pixulé. ‘Disseram que iam me tirar e estão me tirando‘”.
Eis o que disse à CPI Roberto Dias, por sua vez, sobre a acusação de ter pressionado o servidor da Saúde:
“Em 25 de junho, fui injustamente acusado nesta CPI de pressionar um funcionário chefe da Divisão de Importação [do Departamento de Logística do Ministério da Saúde] e, como prova, foi demonstrada uma mensagem encaminhada às 20h46 de um sábado, dia 20 de março, onde eu perguntava: ‘Como está a LI da vacina?’. Essa é a única frase que a mim atribuem na apresentação como prova de pressão indevida. Já não bastasse a falta de materialidade, a mensagem em nada se referia à Covaxin, até porque, em um sábado à noite, nada neste processo teria mudado”, afirmou o ex-diretor do DLOG.
“Pois bem, o teor da minha mensagem se referia à LI [licença de importação] da vacina AstraZeneca, que chegaria no domingo, dia 21 de março, um dia depois do envio daquela mensagem, e contaria com a presença do Ministro da Saúde e outras autoridades em seu desembarque no aeroporto de Guarulhos, como, de fato, aconteceu. Minha preocupação era de que a vacina estivesse sem nenhum problema em seu desembaraço sanitário e aduaneiro que viesse a gerar algum constrangimento à presença do Ministro”, completou.
Fonte: Poder 360