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Ciro Nogueira usa e abusa de suas “buchas” e se move na política para fazer dela seu instrumento de poder

Ele nunca quis ser candidato a governador. Nunca quis ser ministro. Seu esquema é outro.

Não se engane. O pragmatismo político sempre funcionou para Ciro Nogueira, hoje considerado nome forte da gestão de Bolsonaro por sua indicação ao comando da Casa Civil, principal ministério do governo. Mas ele nunca quis ser ministro.

O senador piauiense, presidente nacional do Progressistas, sinalizou este ano, depois do rompimento com o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, colocar seu nome pela oposição para tentar concorrer ao Palácio do Karnak, sede do governo estadual. Mas Ciro Nogueira nunca quis ser candidato a governador.

Seu esquema é outro.

Ele usa de suas artimanhas e já tem em suas mangas várias buchas de canhão para colocar como candidato ao governo do Piauí pelo lado da oposição.

Esse cargo, de chefe da Casa Civil de Bolsonaro, veio-lhe bem a calhar e pode funcionar, no próximo ano, como álibi para “se livrar” da candidatura e indicar outro nome, principalmente porque o gestor petista se fortalece a cada dia e a cada dia se fortalece o seu indicado como candidato ao governo, secretário de Estado da Fazenda, Rafael Fonteles, coordenador de um forte programa de investimentos – o PRO Piauí, que vem agregando em torno da gestão petista inúmeras lideranças que Ciro Nogueira considerava como certa para as eleições do ano que vem.

Buchas de canhão – jargão que na política pode significar alguém colocado na linha de frente de uma ação que já se vislumbra derrotada – Ciro Nogueira tem na manga. Fala-se, nos bastidores, no ex-senador e empresário João Vicente Claudino, do PTB; de Sílvio Mendes, ex-prefeito de Teresina, do PSDB, e até da deputada Federal Iracema Portela, do PP, ex-mulher do senador progressista. Fala-se ainda na deputada federal Margarete Coelho (PP), que já foi vice-governadora de Wellington Dias em gestão anterior. Mas a parlamentar continua marchando junto ao petista, tendo, inclusive sua irmã, Sádia Castro, secretária de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semar-PI). Mas isso pode mudar agora com Ciro na Casa Civil, com a possibilidade de mais espaço para a parlamentar dentro do partido e até mesmo em demandas junto ao governo federal. O tempo dirá.

Mas o que quer Ciro Nogueira? Talvez usar seu prestígio político para influenciar nas negociações – ou negociatas – que lhe possam lhe beneficiar economicamente.

Seguem nos bastidores situações no mínimo cabeludas envolvendo o senador, como retratou a Revista Crusoé da semana passada.

De acordo com a revista, haveria um suposto esquema de corrupção capitaneado pela alta cúpula do Progressistas no Ministério da Saúde.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e Ciro Nogueira são apontados como autores de pressão para ampliação do valor do contrato de logística no Ministério da Saúde, na gestão do então ministro da Saúde Eduardo Pazuello. As revelações podem jogar luz no que Pazuello queria dizer quando deixou o ministério, insinuando que foi vítima de pressão de figurões da política após se recusar a liberar o ‘pixulé’.

Trata-se, de acordo com informações de bastidores, de um suposto esquema de desvio de dinheiro no contrato de distribuição de vacinas com a empresa  VTCLog. Foram nominalmente citados, além do deputado federal Ricardo Barros (PP), líder do Governo na Câmara, o próprio presidente da Casa, Arthur Lira, Ciro Nogueira, políticos responsáveis diretos por indicações a postos de comando dentro do ministério, além da advogada Andreia Lima, que se apresenta como CEO da empresa.

A revista aponta que o esquema seria operado por um indicado do atual comandante da Câmara: “Lira, um dos supostos beneficiários do esquema, foi o responsável pela indicação do então coordenador-geral de material e patrimônio do Ministério da Saúde Alexandre Lages Cavalcante. Foi Cavalcante quem assinou o contrato hoje recheado de indícios de irregularidades entre a pasta e a VTCLog, em julho de 2018.

Cavalcante migrou do Ministério da Saúde para o governo do Distrito Federal, onde foi exonerado cinco meses após assumir o cargo por conta da suspeita de envolvimento em um escândalo milionário: “Ele deixou o ministério no início de 2019, após ser nomeado subsecretário de Saúde no governo do Distrito Federal. Foi exonerado cinco meses depois, com a repercussão negativa em torno da ação movida contra ele pelo Ministério Público Federal (MPf0 no mesmo caso em que Barros e a empresa Global Gestão em Saúde também são réus: o pagamento de 19,9 milhões de reais por remédios para tratar doenças raras que nunca foram entregues. A Global é a sócia da Precisa Medicamentos, a empresa intermediária que assinou o contrato de 1,6 bilhão de reais da vacina indiana Covaxin”.

Apurações do MPF mostra que Alexandre Cavalcante foi quem assinou, ainda em 2017, a ordem de pagamento antecipado para Global, empresa conhecida por não entregar os produtos contratualizados ou entregar produtos de uma qualidade inferior.

“Segundo o MPF, foi Alexandre Cavalcante quem também assinou, em 2017, a ordem de pagamento antecipado para a Global, após um servidor da pasta, depois de pressionado, ter se recusado a fazê-lo por suspeitar de irregularidades no procedimento. O relato se assemelha ao depoimento prestado por Luis Ricardo, irmão do deputado Luis Miranda, sobre uma pressão interna para permitir o pagamento antecipado de 45 milhões de dólares em uma conta em Singapura aberta por uma filial do laboratório indiano Bharat Biotech, que não constava do contrato intermediado pela Precisa com o Ministério da Saúde. A nova denúncia envolvendo o negócio com a VTCLog aponta para uma pressão política para turbinar o contrato de transporte de vacinas”, explica Crusoé.

A suspeita é que o pixulé, citado pelo ex-ministro da Saúde no desembarque do pasta, seria o resultado de um flexão do gestor para atender interesses nada republicanos dos parlamentares fisiológicos.

A relação de Ciro Nogueira com o dono da VTCLog, Carlos Alberto de Sá, conhecido como Carlinhos, pode ter sido fruto de uma falha moral do senador do PP: “A Crusoé, Flavinho admitiu não apenas cultivar relação com os políticos citados, incluindo Flávio Bolsonaro, que jogaria ‘futebol em sua casa’, como afirmou, em nome da manutenção da ‘amizade com Ciro Nogueira’, ter perdoado um caso extraconjugal de sua própria mulher com o senador. Segundo a denúncia, o suposto escândalo envolvendo a traição só não foi detonado porque Ciro, colocado contra a parede por Flavinho, pressionou Roberto Dias (ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde) a assinar o aditivo com a VTCLog no momento em que o contrato estava sob risco. No fim, com o contrato renovado, como numa ação entre amigos, todos se deram bem: Flavinho, o dono da VTCLog, e os expoentes do Centrão, que mantiveram, segundo a denúncia, seus esquemas na Saúde”, pontua Crusué.

Como dissemos anteriormente, o senador se move na política pelo pragmatismo, muitas veze negativo, como assinalou a BBC News. Veja trecho da reportagem assinada por Mariana Schreiber:

Quem é Ciro Nogueira, ex-lulista que será principal ministro de Bolsonaro

“(Ao Jair) Bolsonaro, eu tenho muita restrição. Ele tem um caráter fascista, preconceituoso.” Essa foi a avaliação do senador Ciro Nogueira (PP-PI) sobre o então deputado federal e futuro presidente, feita em 2017 durante entrevista à TV Meio Norte.

Na mesma ocasião, o parlamentar declarou que apoiava a eleição de Luís Inácio Lula da Silva em 2018, acrescentando que o petista “foi o melhor presidente deste país, especialmente para o Piauí e o Nordeste”.

A trajetória de Nogueira

Uma vez confirmada, a nomeação do senador para a Casa Civil consolidará ainda mais a aliança de Bolsonaro com o Centrão — grupo de partidos de centro e centro-direita que tende a apoiar governos de diferentes ideologias, em busca de espaço na máquina pública e recursos para suas bases eleitorais.

A escolha, que pode parecer incoerente para ambas as partes, revela o pragmatismo de Bolsonaro e Nogueira.

O presidente foi eleito com duas críticas ao “toma lá, dá cá” da troca de cargos por apoio político. Acuado por dezenas de pedidos de impeachment, porém, iniciou há cerca de um ano sua aliança com o Centrão para proteger seu mandato, abrindo espaços para indicações desse grupo na máquina federal e destinando mais recursos da União para as bases eleitorais desses parlamentares.

Nogueira apoiou todos os governos desde que chegou a Brasília pela primeira vez como deputado-federal do PFL em 1995. Esteve na base de Fernando Henrique (PSDB), Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).

Alvo da operação Lava Jato

Se o governo Bolsonaro começou com o maior símbolo da Operação Lava Jato, o ex-juiz Sergio Moro, como ministro, agora terá no cargo mais importante da Esplanada dos Ministérios um dos alvos da mesma operação.

Ciro Nogueira já foi denunciado quatro vezes pela Procuradoria-Geral da República (PGR), sendo que duas delas foram rejeitadas pela Segunda Turma do STF e outras duas ainda aguardam análise.

Em agosto de 2018, a denúncia que acusava o senador de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por supostamente pedir R$ 2 milhões em 2014 ao então dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, foi rejeitada porque os ministros consideraram não haver provas além da palavra do próprio executivo, em acordo de delação premiada.

Já em março uma denúncia contra o senador e outros parlamentares do PP por crime de organização criminosa foi considerada inepta por tratar de acusações já arquivadas em outros inquéritos.

Em outra denúncia da PGR, o senador é acusado de tentar atrapalhar a investigação da Lava Jato ao tentar comprar o silêncio de um ex-assessor.

Há dois votos na Segunda Turma do STF para tornar Nogueira réu (ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia), mas o julgamento foi interrompido em 2018 por pedido de vista do ministro Gilmar Mendes e ainda não foi retomado.

Ciro Nogueira foi denunciado também em fevereiro de 2020, acusado de favorecer o grupo Odebrecht com sua atuação parlamentar em troca de propina de R$ 7,3 milhões. O caso aguarda julgamento.

O senador nega todas as acusações.

Mãe de Ciro Nogueira assume em seu lugar

Com a nomeação para a Casa Civil, quem assumirá o lugar de Ciro Nogueira no Senado é sua mãe, Eliane Nogueira, a primeira suplente de seu mandato.

Como é comum no Brasil, o senador vem de uma família com tradição na política, embora sua mãe especificamente nunca tenha sido parlamentar.

Seu avô paterno, Manuel Nogueira Lima, foi prefeito de Pedro II, no Piauí, nos anos 1930. Já o pai, Ciro Nogueira Lima, foi duas vezes deputado federal.

O senador foi casado por 25 anos com Iracema Portela Nunes Nogueira Lima, também de uma família tradicional na política, com quem teve duas filhas. Ela é deputada federal.

Seu ex-sogro, Lucídio Portela Nunes, foi governador do Piauí de 1979 a 1983 e depois senador. Sua ex-sogra, Míriam Portela Nunes, foi parlamentar constituinte e deputada federal.

Advogado e empresário, Nogueira teve um forte ganho patrimonial em oito anos, segundo suas declarações de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Em 2010, ele informou possuir R$ 1,9 milhão em investimentos, automóvel e participação em empresas no Piauí. Já em 2018 declarou patrimônio de R$ 23,3 milhões, valor que incluía ainda um imóvel e uma aeronave.

O maior ganho veio do aumento do valor declarado pela empresa Ciro Nogueira Comércio de Motocicletas, que saltou de R$ 809,8 mil para R$ 18,8 milhões.

Como vemos, Ciro Nogueira é uma raposa velha da política tradicional e através dela aumenta seu grande patrimônio.

É só isso o que lhe interessa. Insinuar candidatura a governador é só mais uma de suas artimanhas para movimentar os incautos (ou dos tolos) da política piauiense ao sue favor e mantê-los a seus pés.

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