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Argentina reabre gradualmente fronteira terrestre de maior trânsito com o Brasil

A ponte internacional Tancredo Neves, fechada aos estrangeiros desde o começo da pandemia de Covid-19, reabre a partir desta segunda-feira (27), unindo novamente o Brasil à Argentina, entre as cidades de Foz do Iguaçu, no Paraná, e Puerto Iguazú, em Misiones. As demais fronteiras entre os dois países serão reabertas a partir de 1º de outubro.

A reabertura, ainda limitada, é considerada um teste para uma readaptação do fluxo de turistas às novas regras que estabelecem cotas diárias de pessoas e protocolos sanitários. As restrições de entrada ao país devem diminuir dentro das próximas duas semanas, quando a Argentina atingir metade da população completamente vacinada contra a Covid-19.

“A reabertura é para a entrada de turistas brasileiros e de argentinos no exterior. É uma experiência piloto para harmonizar o sistema que estava desativado havia um ano e meio, devido à pandemia”, anunciou a diretora de Migrações, Florencia Carignano, durante uma coletiva com a imprensa.

De forma generalizada, as fronteiras terrestres argentinas só vão abrir para turistas de países vizinhos a partir de 1º de outubro e para todos os estrangeiros, de qualquer nacionalidade, a partir de 1º de novembro. Porém, para checar a eficácia do mecanismo em funcionamento, o governo argentino preferiu fazer dois testes preliminares. Desde sábado (25), as autoridades reabriram um ponto de passagem na fronteira com o Chile. Nesta segunda-feira, é a vez da ponte Tancredo Neves.

O ponto escolhido da fronteira com o Brasil movimentou 11,1 milhões de pessoas em 2019, nos dois sentidos de direção. É a passagem de maior trânsito com o vizinho, alternando com o aeroporto de Buenos Aires.

“Antes da pandemia, o número diário podia superar as 50 mil pessoas durante o período de férias, superando o movimento no aeroporto de Buenos Aires”, destaca Carignano sobre a importância dessa reabertura.

A experiência piloto vai limitar-se a uma média de 890 pessoas por dia no sentido Brasil-Argentina.

Abertura gradual

O principal fator que limita o aumento do fluxo diário de pessoas é o teste de antígeno que todos, sem exceção, devem fazer no posto de ingresso na Argentina. Entre a chegada ao país, o processo para o teste e o resultado, o tempo de espera gira em torno de duas horas, restringindo a quantidade de turistas diários, de acordo com a capacidade de controle das autoridades argentinas.

Para o conceito de “corredor seguro”, nesse ponto da fronteira com o Brasil, haverá câmara termográfica, portas biométricas, 190 agentes de migrações e 62 postos de atendimento (31 para entrada na Argentina e 29 para a saída, além de outros dois para caminhoneiros).

Essa limitação, no entanto, tem os dias contados. O decreto de reabertura das fronteiras argentinas aos estrangeiros estabelece que o teste de antígeno deixará de ser exigido quando o país atingir 50% da sua população completamente vacinada.

“Por isso, faltam poucos dias para que possamos aumentar o fluxo diário de pessoas. O que condiciona a quantidade de voos é a capacidade de testes dos laboratórios”, aponta Carignano. Atualmente, 47,2% da população argentina está vacinada com duas doses.

O horário de reabertura formal da ponte será às 17 horas com a presença das autoridades nacionais e provinciais, além de empresários do setor turístico. No entanto, a implementação do sistema e os primeiros turistas estarão habilitados nas primeiras horas do dia.

Expectativa por consumidores brasileiros

Do lado argentino da fronteira com o Brasil, comerciantes aguardam ansiosos os consumidores brasileiros, calculando que a brutal desvalorização de 200% do peso argentino, desde o começo da pandemia, tenha contribuído para aumentar o poder aquisitivo dos brasileiros.

A reabertura favorece também o retorno de argentinos que não podiam voltar por terra ao seu próprio país. Todas as fronteiras terrestres mantiveram-se fechadas também aos argentinos. Até agora, o único ponto de entrada no país para os próprios argentinos era o aeroporto de Buenos Aires, mas com uma capacidade diária limitada que deixou milhares de pessoas retidas no exterior.

Para entrar na Argentina, o turista brasileiro deverá preencher um formulário com caráter de declaração juramentada. Precisará ainda comprovar ter um esquema completo de vacinação, datado de ao menos 14 dias. Também deverá apresentar um exame de PCR negativo, realizado dentro das 72 horas prévias à entrada na Argentina.

Do lado argentino da fronteira, o turista passará por um novo teste de antígeno antes de ser liberado para entrar no país. Se ficar mais de cinco dias na Argentina, precisará ainda fazer um novo PCR entre o 5º e 7º dia desde a chegada. Esses exames deverão ser pagos pelo próprio turista até que deixem de ser exigidos nos próximos dias.

Quem não estiver completamente vacinado, incluindo os menores de idade, poderão entrar na Argentina, mas terão de ficar em quarentena e fazer tanto o teste de antígeno quanto o PCR posterior.

As autoridades argentinas vão aceitar todas as vacinas, incluindo a CoronaVac, o segundo imunizante mais aplicado no Brasil e o primeiro no Uruguai e no Chile.

Queda de contágios

A experiência piloto na fronteira entre Foz do Iguaçu, no Paraná, e Puerto Iguazú, em Misiones, vai durar até 1º de outubro, quando todas as fronteiras da Argentina serão reabertas com Uruguai, Brasil, Paraguai, Bolívia e Chile. No dia 1º de novembro, todos os estrangeiros estarão liberados, sem importar a nacionalidade.

Com 45 milhões de habitantes, a Argentina acumula, desde o começo da pandemia, 5,2 milhões de contagiados, dos quais 114.862 faleceram.

Após a derrota eleitoral nas primárias de 12 de setembro, o governo decidiu flexibilizar as restrições e reabrir as fronteiras. Analistas garantem que a medida visa gerar um clima de normalidade até as eleições legislativas de 14 de novembro, depois das críticas à quarentena argentina, considerada a mais prolongada e estrita do mundo, considerada um dos motivos para a derrota eleitoral. O governo, no entanto, garante que a abertura é consequência da queda no número diário de contágios e da ocupação nas UTIs.

Nas últimas 24 horas, o país teve 562 novos casos positivos de Covid-19, cifra mais baixa nos últimos 16 meses, e 14 mortes, o menor número de óbitos dos últimos seis meses. A ocupação nas UTIs no país é de 36,8%.

Os críticos advertem que o panorama pode mudar com a disseminação da variante Delta, a partir da entrada de turistas.

Jogo do Poder

Fonte: RFI

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