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Após protestos, governo da Colômbia propõe diálogo com a sociedade

O governo colombiano fez um apelo por um diálogo entre “aqueles que protestam” e “aqueles que não protestam” nos atos contra o presidente Iván Duque, que deixaram 24 mortos em nove dias.

“Devemos ouvir todos os setores do país, mas o país também deve ouvir o governo (…). Isso inclui aqueles que protestam, mas também aqueles que não protestam”, disse o conselheiro presidencial Miguel Ceballos, mediador designado para esta crise à Blu Radio.

Os diálogos tiveram início na quarta-feira (5) sob sua supervisão, com a participação do Defensor do Povo, organismo público para a proteção dos direitos civis, representantes da Justiça e organizações de diversos setores da sociedade.

Ceballos garantiu que vai encontrar, na segunda-feira (10) os líderes das manifestações. Em uma mensagem no Twitter, ele convidou os membros do Comitê Nacional de Greve a se reunirem com o presidente colombiano e sua vice, Mara Lucia Ramirez.

O organismo, que convocou os protestos, se diz pronto para negociar. No entanto, o presidente da Central Sindical Única de Trabalhadores, Francisco Maltés, afirmou em um vídeo enviado às mídias do país que o diálogo só será possível “após a desmilitarização de campos e cidades onde foram massacrados jovens protestando pacificamente”.

Os líderes dos protestos prometem se sentar à mesa de negociações com várias reivindicações: melhoria das condições de trabalho, sistema previdenciário, segurança, saúde, o cessar de assassinatos de defensores dos direitos humanos e agilidade na implementação do acordo de paz firmado em 2016 com a guerrilha das FARC. Enquanto isso “continuaremos a greve nacional”, advertiu o sindicalista.

Negociações fadadas ao fracasso

Para Sandra Borda, professora de Ciência Política da Universidade dos Andes, se a negociação for mantida nos termos atuais “fracassará estrondosamente”. “Eles estão reunidos com as mesmas pessoas com que sempre se reuniram”, é “uma conversa deles com eles mesmos”, afirma.

Para a prefeita de Bogotá, Claudia López, “a solução política está nas mãos do governo nacional”. “É preciso conversar com quem está nas ruas, que são os jovens”, declarou.

As manifestações foram em sua maioria pacíficas, mas em algumas cidades houve tumultos e confrontos com a polícia. Em nove dias, 26 pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas. O ministério da Defesa enviou 47.500 soldados a todo o território colombiano para conter os protestos.

Na quinta-feira, as mobilizações se atenuaram em todo o país. No centro de Bogotá, centenas de pessoas se reuniram com tochas, velas e gritando frases como “a greve continua”. Em Medellín (noroeste), cerca de 200 mulheres se manifestaram através de apresentações de danças e músicas. Em Pereira (centro-oeste), centenas de pessoas prestaram uma homenagem silenciosa a três jovens manifestantes baleados no dia anterior, um deles com diagnóstico de morte encefálica.

A ONU, a União Europeia, os Estados Unidos e organizações de direitos humanos se posicionaram contra os abusos da polícia durante as manifestações e fizeram um apelo à calma.

Popularidade em baixa

As manifestações tiveram início na semana passada, em protesto ao projeto de reforma tributária que o governo pretendia aprovar e que castigaria ainda mais a classe média. Mesmo após a retirada do texto, no fim de semana, a população continuou nas ruas, exigindo a renúncia do presidente.

Com popularidade em declínio (33%), Iván Duque enfrenta uma das maiores mobilizações contra ele, desta vez alimentada pela crise econômica gerada pela pandemia de Covid-19. A Colômbia é um dos países mais castigados pela desigualdade na América Latina, com uma taxa de desemprego de 16,8% e cuja pobreza atinge atualmente 42,5% da população.(Com informações da AFP)

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