A crise geopolítica entre o Ocidente e a Rússia coloca a diplomacia brasileira em uma encruzilhada e no foco de estrategistas. Nesta semana, o governo americano e a OTAN realizam reuniões consideradas como estratégicas para tentar frear as ameaças de Moscou contra a Ucrânia e contra a segurança da Europa.
A busca por parte dos europeus e de americanos é por uma resposta unida do Ocidente, principalmente depois que, em 2014, a anexação da Crimeia pelos russos e as ameaças contra o leste da Ucrânia ficaram sem uma resposta contundente.
Nesta segunda-feira, o chanceler Carlos França recebeu um telefonema de seu homólogo americano Antony Blinken, para tratar justamente da crise diplomática com a Rússia. Mas, nos comunicados de imprensa que foram publicados após a conversa, a discrepância ficou clara:
De um lado, os americanos indicaram que falaram sobre a necessidade de uma “resposta forte e unida contra agressões russas”. De outro, o governo brasileiro evitou qualquer condenação ou gesto conjunto de críticas contra Moscou.
A pressão americana ocorre às vésperas de uma possível visita do presidente Jair Bolsonaro ao Kremlin, onde deve ser recebido por Putin em fevereiro. Desde o final do ano passado, as diplomacias de Brasília e Moscou trabalham para organizar a cúpula.
Não por acaso, o Itamaraty emitiu uma nota mais suave sobre a conversa com Blinken, apenas esclarecendo que os dois interlocutores “trocaram impressões e expressaram suas respectivas posições nacionais”. De acordo com o Brasil, qualquer ação deve estar pautada na resolução do Conselho de Segurança da ONU, de 2015, que prevê medidas concretas para reduzir a tensão e respeitar a integridade territorial.
Vivendo um isolamento esplêndido diante da impossibilidade de ser recebido por alguns dos principais chefes de estado pelo mundo Ocidental, aliados de Bolsonaro enxergam em Putin uma eventual saída para mostrar à ala conservadora que não foi abandonado no cenário internacional.
Oportunista, Putin também vê o encontro como uma chance de ampliar sua influência na América do Sul. O russo, no ano passado, chegou a elogiar as “qualidades masculinas” e a “coragem” do brasileiro pela forma que lidou com a pandemia.
No Conselho de Segurança desde 1º de janeiro de 2022, a diplomacia brasileira vive sua primeira encruzilhada geopolítica, principalmente se ainda pretender buscar algum status de aliado militar de membros da OTAN.
Hora de os profissionais do Itamaraty definirem o rumo da política externa e tirarem as crianças da sala.
Fonte: UOL/Jamil Chade