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A caminho do fim: PSDB perde força e encolhe por todo o país; ameaçado em Teresina (PI)

Partido que lidera em prefeituras nas cem cidades mais populosas do país, com 28, o PSDB terá menos candidatos em 2020 e deverá enxergar uma queda em número de eleitos. Isso é resultado da perda de eleitorado em 2018, quando houve a ascensão de bolsonarismo. O eleitorado mais ligado à direita foi arrastado para o PSL —e agora pulverizado em diversas legendas—, enfraquecendo os tucanos inclusive em verbas.

Para as eleições municipais, o partido teve uma redução de 25% no número de candidatos a prefeito: de 1.719, em 2016, para 1.296 neste ano. O partido lançou candidato em menos da metade das capitais —12 ao todo— e tem 84 concorrentes na cabeça de chapa nos 200 maiores municípios do país.

Além disso, não conseguiu lançar nomes em cidades que dominavam havia anos no Norte e no Nordeste.

O UOL pediu ao diretório nacional do partido uma entrevista com algum líder para comentar o cenário, mas recebeu apenas uma nota com números e que destaca que o partido tem candidatos em locais cuja populações “somam ao todo 75 milhões de habitantes, o equivalente a 36% da população brasileira”.

Na última eleição municipal, o partido obteve a maior taxa de sucesso, com 47% dos candidatos eleitos. “O que vejo é que PSDB está virando um partido incolor, inodoro, sem característica que o destaque dos demais”, diz o prefeito de Manaus e um dos nomes históricos do PSDB, Arthur Virgílio Neto.

Para ele, o PSDB enfrenta um processo claro de redução de influência no cenário nacional por conta da falta de uma posição clara no jogo político. “Nas questões envolvendo o [presidente Jair] Bolsonaro, a posição do PSDB deveria estar muito clara. Está clara a posição do presidente do PSDB [Bruno Araújo], firme, mas a do PSDB não vemos”, afirma.

Virgílio Neto ainda defende que o partido faça uma “imersão” para retomar as origens e resgatar a força. Entre esses pontos, diz, está a instalação do parlamentarismo.

“O PSDB recebeu um aviso na última eleição, muito grave. Não é normal um partido que tem um número radicalmente diminuído, um partido sobre o qual você não lê. Eu vejo as notícias na internet e dificilmente você vê alguém do PSDB [no noticiário], nem fazendo besteira. Vejo um partido como os outros”, afirma.

Vexame em 2018 impulsiona queda

Para Bruno Silva, cientista político e pesquisador do Laboratório de Política e Governo da Unesp (Universidade Estadual Paulista), a “vexatória” campanha de Geraldo Alckmin em 2018 deve ter colaborado para uma recomposição de forças internas no PSDB e para a decisão do partido em caminhar “um pouco mais para a direita”.

“Isso expressa inicialmente a lógica do voto BolsoDoria no segundo turno das últimas eleições. O fato é que muitos já haviam desacreditado de Geraldo Alckmin ao longo da campanha, acarretando em uma espécie de debandada informal, com o apoio de determinados setores migrando para Bolsonaro”, diz Silva.

“Isso expressa inicialmente a lógica do voto BolsoDoria no segundo turno das últimas eleições. O fato é que muitos já haviam desacreditado de Geraldo Alckmin ao longo da campanha, acarretando em uma espécie de debandada informal, com o apoio de determinados setores migrando para Bolsonaro”, diz Silva.

A força no estado de São Paulo tem levado o PSDB a tentar se reestruturar com novos líderes e novos rostos. Até o tradicional tucano já caiu em desuso na sigla.
Bruno Silva, cientista político

Ele afirma que a redução de candidatos a prefeito lançados pelo partido é reflexo da diminuição da sua força no Congresso em 2018, quando houve uma queda de 54 em 2014 para 29 parlamentares em 2018.

“Não podemos nos esquecer de que os deputados federais são pontes importantes das diferentes regiões com Brasília e, portanto, lideranças fundamentais no espraiamento do partido a nível nacional”, completa.

Sem sucessor em capitais

No Norte e Nordeste, o PSDB não fará sucessor em três capitais porque não conseguiu lançar candidato. Hoje, o partido governa oito capitais e tem cinco candidatos à reeleição (Porto Alegre, São Paulo, Porto Velho, Palmas e Natal) e três em fim de mandato (Belém, Manaus e Teresina).

Em Maceió, onde o partido venceu em 2012 e em 2016 com Rui Palmeira, divergências internas levaram o prefeito a deixar o partido no início do ano para apoiar o candidato do MDB, Alfredo Gaspar. O PSDB se aliou ao PSB, de João Henrique Caldas, mas nem sequer conseguiu indicar o vice na chapa.

Na região Norte, o PSDB já sabe que perderá o comando das duas maiores capitais, Manaus e Belém.

Em Belém, o candidato a sucessor de Zenaldo Coutinho (PSDB) seria o ex-governador Simão Jatene, mas ele ficou inelegível por contas reprovadas. O partido indicou apenas a vice, Mary Muniz, de Thiago Araújo (Cidadania).

Em Manaus, Virgílio Neto apoia Alfredo Nascimento (PL), com a vice tucana Conceição Sampaio. “Nós tínhamos um nome, mas preferimos não lançar”, diz o atual prefeito.

SP e Teresina na mira

Entre as capitais que o PSDB tem candidatos, a maior aposta é São Paulo, onde Bruno Covas tenta a reeleição. Eleito vice-prefeito de João Doria, em 2016, assumiu após o titular rumar ao governo de São Paulo.

Uma outra cidade emblemática é Teresina, que tem o mais longo domínio tucano em uma capital, com vitórias sucessivas desde 1992. O prefeito Firmino Filho encerra em dezembro seu quarto mandato à frente da capital piauiense e lançou para a sucessão seu ex-secretário de Educação.

“O candidato lançado pelo PSDB é neófito, não tem trajetória em cargos eletivos. Ele era secretário de Educação, mas é meio desconhecido para a sociedade em geral. O desafio é torná-lo conhecido, por isso está atrás nas pesquisas”, diz Vitor Sandes, professor de ciência política da UFPI (Universidade Federal do Piauí).

Ainda segundo o cientista político, a redução de candidaturas pelo país pode ser atribuída à diminuição da bancada do PSDB e a consequente redução dos fundos partidário e eleitoral.

“O PSDB se tornou menos atrativo para os candidatos. Outros partidos têm mais recursos. O fundo eleitoral é algo que define a busca por quem tenha condição de financiar a campanha”, afirma.

Nesse cenário, diz, o PSL é quem mais ganhou força na direita. “Houve uma guinada do eleitorado para a extrema-direita, com esvaziamento do centro. Então houve uma maior identificação das pessoas com valores que eram defendidos por Bolsonaro. O PSDB não conseguiu mais ter propostas e discurso para agradar esse eleitorado.”

Redação

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