Talibãs capturam mais duas capitais de províncias no Afeganistão
Konduz, Afeganistão, 8 Ago 2021 (AFP) – Kunduz, grande cidade do norte do Afeganistão, e Sar-e-Pul, na região noroeste, caíram hoje sob controle dos talibãs e se tornaram a terceira e quarta capitais provinciais tomadas pelos insurgentes em três dias.
Este é o avanço mais importante desde o início da ofensiva militar dos talibãs em maio, quando as forças estrangeiras presentes no Afeganistão começaram o processo de retirada do país.
“Após combates intensos, os mujahedines, pela graça de Alá, capturaram hoje a capital da província de Kunduz”, anunciaram os talibãs em um comunicado.
“Kunduz caiu. Os talibãs tomaram o controle de todos os edifícios importantes da cidade”, afirmou um correspondente da AFP na cidade, que fica 300 km ao norte da capital Cabul e a 50 km da fronteira com o Tadjiquistão.
Em Sar-e-Pul, “os talibãs cercaram um batalhão do exército nas proximidades da cidade e todas os demais prédios do governo estão sob controle talibã”, declarou Mohamad Hussein Mujahidzada, membro do conselho da província de mesmo nome.
Os insurgentes assumiram ontem o controle da cidade de Sibargan (noroeste), capital da província de Jawzjan, um dia depois da tomada de Zaranj (sudoeste), capital da província de Nimroz, perto da fronteira com o Irã.
Nos últimos três meses, aproveitando a retirada das tropas estrangeiras, os talibãs assumiram o controle de enormes zonas rurais e concentram agora a ofensiva nas grandes cidades.
Retorno ao passado
Muitos afegãos vivem com o medo do fantasma de um retorno ao poder dos talibãs, que governaram o Afeganistão entre 1996 e 2001, com a imposição de um severo regime islâmico, antes de sua expulsão por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos.
As tropas estrangeiras estão no país há quase duas décadas, desde a invasão liderada por Washington após os ataques de 11 de setembro de 2001.
O acordo assinado em fevereiro de 2020 em Doha pelos talibãs com o governo dos Estados Unidos, que prevê a retirada de todos os soldados estrangeiros do Afeganistão, impede —ao menos em tese— os insurgentes de executar ataques nas grandes cidades afegãs.
Mas diante dos avanços dos talibãs nas grandes cidades, as tropas dos Estados Unidos, que devem concluir a retirada do Afeganistão no fim de agosto, intensificaram os ataques aéreos.
“As forças americanas executaram nos últimos dias vários ataques aéreos para defender nossos sócios afegãos”, afirmou a comandante Nicole Ferrara, porta-voz do Comando Central do exército.
Esta semana, pouco antes do início da tomada das capitas provinciais, os talibãs reivindicaram o assassinato do diretor de comunicação do governo afegão, após uma advertência de que executariam operações contra altos funcionários em resposta à intensificação dos bombardeios.
Na quarta-feira (4), os insurgentes prometeram novas “operações de represália” contra nomes importantes do governo, após um ataque à residência do ministro da Defesa, o general Bismillah Mohammadi.
O ministro escapou ileso, mas oito pessoas morreram no atentado.
Preocupação internacional
A rápida ofensiva talibã provoca preocupação internacional. Esta semana, durante uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, a emissária das Nações Unidas para o Afeganistão, Deborah Lyons, pediu aos talibãs o “fim dos ataques contra as cidades”.
Lyons pediu ainda ao Conselho que apresente uma advertência “inequívoca”.
O governo britânico pediu a todos os seus cidadãos no Afeganistão que abandonem imediatamente o país diante do “agravamento da situação da segurança”.